29.4.06
25 de Abril de 1974
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19.4.06
O Silêncio da Palavra
Recebi por e-mail, do Senhor Manuel Bastos, ex-combatente da guerra colonial e autor do blog Cacimbo o seguinte comentário:
"Anexo um texto que gostaria de dar a ler aos seus alunos em primeira-mão. Escrevi-o para eles, que segundo me apercebo, vêm muitas vezes visitar o meu blog."
Semanas antes, outros soldados saíram à rua em Lisboa, mas não traziam armas nas mãos nem vinham devidamente aprumados. Traziam muletas, cadeiras de rodas, braços ao peito e levantavam um cartaz de protesto sobre as suas cabeças.
Sobre as suas cabeças os soldados exibiam o espaço em branco das palavras por escrever, o silêncio dos gritos por soltar; exibiam o derradeiro protesto dos amordaçados: um cartaz em branco.
Os automóveis na Avenida da Liberdade pararam para os deixar atravessar e as pessoas pararam para ler o silêncio insultuoso do cartaz, mas em breve outros soldados que ainda tinham pernas e braços e armas vieram fazê-los parar e levaram-nos com eles. Sobre o chão ficou o cartaz em branco rasgado; a palavra duas vezes amordaçada; a palavra banida antes de ser dita; o próprio silêncio da palavra por dizer, que de tão óbvia fora previamente censurada, como um filho que é negado antes de ser concebido porque os pais se odeiam.
Agora as pessoas de Lisboa saíram à rua. E porque enchem as pessoas as ruas de Lisboa só porque os soldados apearam do poder os governantes do país? Porque não ficaram em casa, à espera que tudo se acalmasse? Que vêm dizer as pessoas umas às outras
Hoje nenhuma palavra foi negada. Hoje nenhum cartaz foi rasgado por ostentar a ausência da palavra proibida como se o silêncio fosse o molde da própria palavra e a repetisse incessantemente a toda a gente.
As pessoas gritam em Lisboa a plenos pulmões todas as palavras e todas as palavras são possíveis e de entre todas as palavras que dizem, o povo de Lisboa diz a palavra mais proibida de todas, aquela que foi proibida mesmo quando não foi escrita e o seu lugar em branco num cartaz fez sentir ainda mais a sua falta.
Foi isso que as pessoas foram fazer para a rua naquele dia do mês de Abril, quando as flores costumam abrir ao nascer do sol em busca da luz - enquanto os soldados apeavam do poder aqueles que proibiam até o silêncio das palavras, o povo de Lisboa saiu à rua em busca da Liberdade.
Um grande abraço, 6º ano